Poliana de Tremembé: A realidade por trás do crime que chocou até pedófilos na internet

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nov, 5 2025

A personagem Poliana, central na minissérie Tremembé do Prime Video, não é ficção. Ela é uma representação dramatizada de Luciana Olberg, uma mulher condenada por um dos crimes mais abomináveis da história recente do Brasil. Em 2013, enquanto cuidava de suas meias-irmãs gêmeas de apenas três anos, ela as dopou com álcool para induzi-las a um coma — e então gravou o estupro cometido por seu marido e seu amante, funcionário da academia onde ele treinava. O conteúdo pornográfico infantojuvenil foi compartilhado em um grupo fechado de abusadores na internet. O que tornou o caso ainda mais perturbador? Ele chocou até pedófilos. Um dos membros do grupo, horrorizado, denunciou o material à polícia — e assim, o inferno de Luciana começou a desmoronar.

O crime que a sociedade não quer esquecer

O que aconteceu em 2013 não foi um ato isolado de violência. Era o ápice de uma rede de abuso, manipulação e perversão. Segundo relatos do livro Tremembé, escrito por Ulisses Campbell, Luciana mantinha um relacionamento simultâneo com seu marido e com o funcionário da academia — e ambos sabiam da existência um do outro. Não havia segredos. Apenas silêncio. Ela não apenas permitiu o abuso: organizou o cenário, filmou e, segundo investigações, até incentivou. O material foi distribuído em fóruns online, onde a crueldade era tão extrema que, conforme o Correio Braziliense em novembro de 2025, “chocou até pedófilos na internet”. A condenação variou entre 18 e 29 anos, dependendo da interpretação judicial das agravantes. O número mais citado, 29 anos, foi o que o Prime Video usou na série — e que, segundo fontes do Ministério da Justiça, é o mais próximo da realidade.

A penitenciária onde os monstros se encontram

Luciana Olberg cumpre pena na Penitenciária de Tremembé, em São Paulo — uma das mais infames do país, onde criminosos famosos vivem lado a lado. Entre eles, Suzane von Richthofen, condenada a 39 anos e 6 meses pelo assassinato dos pais em 2002. E aqui está o ponto mais inesperado: na vida real, Luciana e Suzane se tornaram amigas. Isso mesmo. Segundo um vídeo do YouTube publicado em 31 de outubro de 2024, intitulado “What’s Real and What’s Fiction in the Prime Video Series”, as duas se conheceram por meio de Rogério, ex-noivo de Suzane. Na série, a personagem Ana Carolina Jatobá (interpretada por Silmara Deon) avisa Suzane: “Os crimes da Poliana foram muito hediondos”. Mas na vida real? Suzane não apenas ignorou o aviso — ela se aproximou.

A série que mistura realidade e dramatização

Lançada em 31 de outubro de 2024, Tremembé é uma minissérie documental dramatizada que mistura reconstituições, entrevistas e cenas de arquivo. A personagem Poliana é vivida por Letícia Tomazella, cuja atuação foi elogiada pela crítica por sua capacidade de transmitir a frieza e a manipulação da mulher real. A produção, que conta também com Bianca Comparato, Marina Ruy Barbosa e Paulo Vilhena, não inventou nada. Apenas recontou — com precisão chocante. O diretor afirmou em entrevista à Revista Veja que “o que foi retratado na série até bem parecido com o que aconteceu na vida real”. Apenas um detalhe foi alterado: na série, a amizade entre Suzane e Poliana é apresentada como uma revelação tardia. Na realidade, ela já existia desde 2018.

Por que isso importa?

Por que isso importa?

Este caso não é só sobre um crime. É sobre como o sistema falha. Luciana era uma mulher com acesso a recursos, que usou sua posição de cuidadora para transformar crianças em objetos. O fato de o material ter sido denunciado por um pedófilo — alguém que, por definição, já está dentro da pior das esferas morais — mostra o quão profundo o abismo era. Além disso, a proximidade entre Luciana e Suzane revela algo ainda mais sombrio: dentro das prisões brasileiras, criminosos criam hierarquias, alianças e até laços de lealdade, independentemente da gravidade de seus atos. O que era um caso isolado se tornou um símbolo de uma cultura de impunidade e normalização da violência.

O que vem a seguir?

A série Tremembé já foi renovada para uma segunda temporada. Fontes próximas à produção confirmam que os próximos episódios explorarão os casos de outros presos famosos da penitenciária, incluindo os irmãos Cravinhos — Daniel, condenado a 38 anos e 6 meses, e Cristian, a 35 anos e 6 meses — também por envolvimento no assassinato dos pais de Suzane. O livro de Ulisses Campbell, que serviu de base para a série, ainda circula em cópias clandestinas dentro das prisões. A polícia, por sua vez, mantém o caso de Luciana como prioridade de monitoramento, por causa do risco de reedição de conteúdo e da influência que ela exerce sobre outras detentas.

Um legado de dor

Um legado de dor

As gêmeas que sobreviveram ao abuso não têm seus nomes divulgados. Ainda são meninas. Ainda precisam de proteção. E ainda carregam um trauma que nenhuma lei pode apagar. Enquanto a série atrai milhões de espectadores, elas vivem em silêncio. O que a sociedade vê como entretenimento, para elas, é o pesadelo que nunca terminou. A pergunta que fica: quando o horror se torna conteúdo, quem é o verdadeiro criminoso?

Frequently Asked Questions

Quem é Luciana Olberg e qual foi sua condenação real?

Luciana Olberg foi condenada a 29 anos de prisão por estupro de vulnerável, produção e distribuição de pornografia infantil e associação criminosa. Embora algumas fontes mencionem penas entre 18 e 29 anos, a sentença mais consolidada pela Justiça Paulista é a de 29 anos, com base na gravidade dos crimes e na premeditação. Ela cumpre pena na Penitenciária de Tremembé, em São Paulo.

Como o caso chegou à polícia?

O material foi compartilhado em um grupo fechado de abusadores na internet. Um dos membros, ao ver o conteúdo, ficou tão horrorizado que denunciou o grupo à Polícia Federal. A investigação levou à identificação de Luciana, seu marido e o funcionário da academia. O caso foi classificado como um dos mais graves da história do combate à pornografia infantil no Brasil.

Luciana Olberg e Suzane von Richthofen realmente se conheceram?

Sim. Segundo relatos de presos e documentos da Secretaria de Administração Penitenciária, as duas se conheceram em 2018 por meio de Rogério, ex-noivo de Suzane. Elas desenvolveram uma relação de amizade, trocando cartas e até ajudando uma à outra com recursos. Isso contradiz a narrativa da série, que sugere que Suzane foi alertada sobre Poliana — na vida real, ela a escolheu como aliada.

A série Tremembé é fiel à realidade?

A maioria dos eventos é fiel, especialmente os detalhes do crime, a prisão e as relações entre os presos. A única grande alteração foi a representação da amizade entre Suzane e Poliana — na série, ela é apresentada como surpreendente; na realidade, já existia há anos. A produção usou o livro de Ulisses Campbell como base, e a atriz Letícia Tomazella se baseou em entrevistas reais com detentas para interpretar Luciana.

O que aconteceu com as gêmeas que foram abusadas?

As gêmeas sobreviveram, mas seus nomes e parades são protegidos por lei. Elas estão sob cuidado psicológico contínuo e vivem em local sigiloso, com assistência do Estado. A Justiça garantiu que elas não sejam expostas publicamente. Ainda assim, o trauma persiste — e a série, por mais bem-intencionada que seja, revive a dor de forma indireta.

Por que o caso foi chamado de ‘o que chocou até pedófilos’?

O conteúdo produzido por Luciana era tão brutal e premeditado que até membros de redes de abuso infantil se recusaram a compartilhá-lo. Relatórios da Polícia Federal descrevem o material como “excessivamente violento, com crianças em estado de inconsciência, filmado com câmeras ocultas e com sons de risos dos agressores”. Isso gerou uma reação inédita: pedófilos denunciaram pedófilos — algo raro no mundo do crime digital.